3.10.06

Embala que o resto cala


Lá na colina está ela
Ela a quem embala o filho
O filho do pai bastardo
que mora embaixo da laje

Lá todos vivem felizes
Cantam, dançam e batucam
Lá todos passam necessidade
Vivem a margem do perigo e da vida
Lá todos são alvos

Ela está lá desde aquela época
Que libertaram seus descendentes
Ficou calada, impotente
Cansada, desgraçada e jogada

Lá todos querem ter
Todos querem ser e comer
Derramam lágrimas por não ter

Por que sofrem?
O mundo é tão belo
Mas para ela o mundo é paralelo
Nos barrancos de um cemitério
Na clandestinidade dos que ali vieram

O chão de barro serve para gurizada
Correr com os pés descalços
Atrás da pipa que foi “pro pau”
Na colina do underground

São todos irmãos dela, não de sangue
Sim de cumplicidade, amizade
Fazem o papel da ajuda
Dão-lhes feijão e pão
É o que enche a barriga de um irmão

Embala, embala
Embala para não cair na bala
Na bala que se perde de vez em quando
No quando que não se sabe onde
No onde que não se encontra o lugar

Quem sabe ela irá reinar
Difícil é propagar
Um sonho que não quer chegar
O que resta é embalar para não chorar.

Postado por: Gabriela Jacinto às 19:19

1 Comments:

Blogger Mario Davi Barbosa said...

Embala, embala pra não cair no crime, na desilusão do não ter e não ser alguém bem quizto, bem visto nos olhos da "sociedade"!

Gostei do poema, muito profundo!

14.10.06  

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